Neste artigo, vou mostrar como fotometrar filmes na fotografia analógica. Por mais estranho que possa parecer, a função do fotômetro não é te ajudar a encontrar o equilíbrio de luz. Você não é obrigado a fotometrar no zero.
Você pode fotometrar em qualquer ponto do fotômetro, para mais ou para menos, e isso sim é ter controle da luz do ambiente na imagem. Porém, para ter controle total, é preciso que você entenda como o filme enxerga a luz, e é isso que vou abordar.
Entenda como filmes lidam com subexposição
A característica mais importante dos filmes preto e branco e dos coloridos do processo C41 é que eles são muito bons no que diz respeito a superexposição. Independente de marca, todos estes filmes aguentam muita luz sem que a imagem comece a perder informação. Em contrapartida, eles todos são muito ruins ao lidar com subexposição, ou seja, a falta de luz.
Acho que a melhor maneira de explicar o porque isso acontece é fazer você entender as seguintes ideias, na ordem:
- o filme tem um composto químico sensível à luz (em geral, nitrato de prata);
- à medida que a luz incide sobre cada molécula de nitrato de prata, ela se satura e deixa de responder à luz como deveria;
- enquanto esta molécula capta cada vez menos luz, mais luz continua a captar uma molécula de nitrato de prata que recebe pouca luz (área de sombras).
Como fotometrar filmes? Pensando nas sombras!
Imagine uma cena com céu claro e sombras. Quanto mais luz a área com céu claro recebe, mais o filme deixa de captar a luz com eficiência. Ao mesmo tempo, as áreas de sombra da imagem continuam captando o máximo de luz que conseguem, deixando essas áreas mais claras.
O ponto principal é: quanto mais luz você deixa entrar na foto, mais as sombras vão ficando claras, e as áreas de altas luzes pouco se alteram.
Na hora de fotometrar para filmes, deixar entrar mais ou menos luz significa escolher entre dar mais ou menos informações às sombras. O maior erro dos fotógrafos é achar que a fotometria tem a ver com controlar a quantidade de luz na foto, e em partes eles estão certos. Isto é importante e necessário. Porém, fotometria tem a ver com controlar o nível de contraste final no negativo.
Quanto mais você superexpõe, mais informações você tem nas sombras, sem perder as altas luzes. Quanto mais você subexpõe, mais informações você perde nas sombras, sem perder nos highlights.
Um exemplo prático de como fotometrar filmes
A princípio, suponhamos que a fotografia abaixo tenha sido feita com as seguintes configurações: filme ISO 400, abertura em f/4 e 1/250 de tempo de exposição. Nesta cena, temos uma luz de bastante contraste, que ilumina muito bem parte da cena, e ilumina pouco a outra parte.
Se eu mudasse a fotometria para que mais luz participasse da foto, usando 1/125, por exemplo, a parte de altas luzes permaneceria praticamente como está, e a parte de sombras passaria a ter muito mais informação, diminuindo o contraste da foto.
Se eu fizesse o contrário e usasse uma fotometria onde menos luz entrasse, como por exemplo, 1/1000 de tempo de exposição. Diminuiria consideravelmente a informação nas sombras, sem no entanto perder o que já tinha nas altas luzes. Neste segundo caso, a foto teria um contraste muito maior.
Para que fique bem claro: filmes fotográficos são muito bons para lidar com superexposição, porque seria necessário muita luz para estourar um filme por completo. Já com subexposição, encontramos mais dificuldades. Um stop de luz que seja pode fazer toda a diferença na hora de salvar ou não as informações das sombras de uma cena.
Sempre bom lembrar: neste curso assumo que você já sabe operar uma câmera no modo manual e conhece todas as relações entre velocidade, abertura, ISO e como eles controlam a luz. Se este não é o caso, recomendo então ler meus artigos sobre como operar sua câmera no modo manual. Não só recomendo, insisto que você assista. Se você não entende ainda a operação da câmera, você não será capaz de entender tudo o que abordo aqui. Para continuar este conteúdo, vou precisar que você saiba também como funcionam os métodos de medição que a maioria das câmeras oferece. Se você já sabe, ótimo!
Modos de medição do fotômetro
Existem 2 modos principais de fotometria. A fotometria por medição matricial e a fotometria por medição pontual, ou spot. Nesses módulos você estará dizendo a sua câmera como ela deve medir a luz.
Na medição matricial a câmera mede toda a luz presente na cena visível no visor da câmera, ou seja, é uma média de todas essas luzes presentes na cena. Este modo apresenta um excelente nível de acerto em cenas onde não haja muito contraste.
Na fotometria pontual (ou spot) a câmera deixa de medir a luz da cena inteira e passa a usar como referência de medição somente o centro do visor, onde normalmente há uma marcação indicando a área de luz a ser medida.
Na minha Pentax 67II, por exemplo, posso escolher entre estas duas medições. Escolhendo a medição matricial, tudo que aparece no visor será contado para fins de cálculo de fotometria. Já na medição spot, somente a parte da cena que estiver dentro do círculo central será calculada na hora da fotometria.
É muito importante entender isso porque precisamos ser muito precisos na hora de pensar como fotometrar filmes.
A maioria dos fotógrafos acaba usando sempre a fotometria pontual para qualquer cena, quando este tipo de medição existe na câmera, é claro. Algumas câmeras simplesmente não tem este tipo de medição. (Pra ser bem sincero, algumas câmeras analógicas não possuem nem mesmo fotômetro).
Em outras palavras, usando a fotometria pontual, fica bem fácil medir só a informação que te interessa. No caso, as sombras. Se você quer muita informação nas sombras, fotometre zero nas sombras. Se quer pouca informação nas sombras e mais contraste, fotometre abaixo de zero nas sombras.
Como eu fotometro, pessoalmente?
Eu gosto muito de ter informação em toda a cena. Por isso acabo sempre utilizando a técnica de fotometrar para as sombras na hora de fotografar. Quase todas as minhas imagens têm sua luz calculada dentro deste raciocínio: faço a medição pontualmente nas sombras para garantir informação naquelas áreas. Claro, as altas luzes ficam em números altos, mas como você já aprendeu, filmes têm muita latitude para cima, então é possível superexpor bastante sem medo de estourar.
O Vitor Leite, do LabLab de Curitiba fez um gráfico muito interessante sobre estas questões de superexposição e subexposição em vários tipos de filme.
Algumas vezes optei por usar a técnica oposta, fotometrando nas altas luzes, como você pode ver na fotografia acima. Ao medir “0” nas partes mais claras da imagem, acabei deixando as sombras num número muito baixo no fotômetro. Por isso o grande contaste na imagem.
Enfim, não há certo nem errado. O importante é entender todos os conceitos acima, entender o raciocínio de fotometrar filmes pensando nas sombras e aplicar aos seus objetivos.
