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Workshops de fotografia são uma fraude?

A força motriz deste texto foi uma conversa que tive com um seguidor pelo meu Instagram. De acordo com ele “a cada dia que passa, mais superficial se tornam as imagens, fotógrafos e professores. Investem em copiar alguém porque acham que ser professor de fotografia ou fotógrafo ele vai ficar rico”.

A força motriz deste texto foi uma conversa que tive com um seguidor pelo meu Instagram sobre workshops de fotografia. Achei muito legal o que ele pontuo. Gostei tanto da conversa que decidi escrever sobre. Vou começar citando o que ele falou, e depois explico minha opinião, assim como expliquei pra ele. Meu ponto de vista é o de um professor de fotografia.

Existem mais professores de fotografia que fotógrafos. Hoje existem mais pessoas dando aula de fotografia do que fotografando. Hoje as pessoas “fotógrafos” investem em cursos de didática e não em fotografar na prática. Vejo pessoas que fotografam há menos de 5 anos se intitulando coach. Rsrs

Por esse prisma, podemos perceber que a cada dia que passa, mais superficial se tornam as imagens, fotógrafos e professores. Investem em copiar alguém porque acham que ser professor de fotografia ou fotógrafo ele vai ficar rico.

Você tem uma estrada (acho), agora pense nos mestres do Instagram e pense no que será daqui há 30, 40 anos se isso continuar assim.

Ele não quis se identificar.

A conversa começou num ponto e terminou em outro, mas este trecho citado representa bem o que quero falar sobre Workshops e Cursos de Fotografia, que vale também para qualquer área.

Curso de Fotografia em Montes Claros

A verdade é que hoje em dia é muito mais fácil ser fotógrafo

Acredito que na experiência humana neste planeta, relacionado ao ato de trabalhar, existem áreas que vão surgindo e desaparecendo de acordo com o tempo e com o contexto da época. Hoje temos profissionais organizadores de guarda-roupas e nenhum profissional que acende os lampiões da rua.

A Fotografia por exemplo de repente se tornou muito presente, muito importante e muito acessível. Se pararmos pra pensar que ela existe há menos de 200 anos e que há pouco mais de 100 anos atrás vivíamos num mundo onde 99,9% não tinha acesso a qualquer tipo de imagem, dá pra ficar maravilhado.

O mundo mudou e hoje recebemos literalmente milhares de imagens fotográficas por dia nas redes sociais, televisão e tudo mais.

Além disso a fotografia digital e a internet retirou milhares de horas na curva de aprendizado do fotógrafo médio. Além da compra do equipamento, antes você tinha também o problema de só ver os resultados do que fez depois de gastar pra revelar suas fotos e filmes.

Workshops de Fotografia, Turma do Neto Macedo em Salinas

Hoje você fotografa e vê o resultado na hora, comparando erros e acertos imediatamente. Este processo tomava um tempo considerável e claro, não havia a internet com milhares de informações pra você absorver sem limite geográfico.

Há muitos workshops de fotografia porque mais pessoas querem ser fotógrafos

Na minha opinião o interesse pela fotografia cresceu principalmente por estes dois motivos:

  1. fotografia digital e conhecimento acessível;
  2. ascensão das mídias pessoais (ou redes sociais).

Cada um virou um mini-editor de sua própria revista que em teoria pode alcançar uma audiência gigante, se este souber conversar direito com essa audiência.

Na conversa citada acima meu interlocutor se indignou com a quantidade de auto-intitulados mestres da fotografia (ou professor de fotografia) existentes hoje em dia. Entendi sua indignação, mas contrapus que nunca tive a mesma indignação, pelo menos não contra os workshops de fotografia.

Apesar de nunca ter me intitulado mestre em nada, acho que todos são livres para agirem como quiserem, desde que não prejudiquem ninguém.

Como já disse, ficou mais rápido aprender fotografia e conseguir qualidade razoável. Os equipamentos ajudam muito mais do que antigamente.

Falando-se em termos mensuráveis, ficou fácil fotografar. A foto fica bem exposta porque a fotometria é checada em tempo real; fica sempre focada porque o foco é automático e preciso; registra-se na hora certa sem piscar porque dá pra fazer 12 fotos por segundo e cabem 3000 fotos no cartão; o balanço de branco está sempre correto porque é automático, etc. Ficou infinitamente mais fácil de se fotografar “certo”.

Por mais que 99,9% dos fotógrafos não sejam mestres de fato, ainda assim eles podem se denominar fotógrafos e oferecer serviços que, pelo menos nos aspectos mensuráveis, são muito bons. E claro, é normal que alguns destes queiram ensinar para outros.

E os falsos mestres e professores?

Concordo que hoje há muito, mas muito professor de fotografia. Pode até ser que muitos sejam “charlatões”, no sentido de que fingem ensinar, mas isso também força quem é bom a se especializar mais e mais, pra poder se destacar dentro de um mar de serviços ruins.

Por isso o surgimento desta grande quantidade de workshops de fotografia não me incomoda e nem o surgimento de milhares de fotógrafos concorrentes não deveria incomodar quem está focado em sempre evoluir e se aprimorar.

Nos casos de profissionais livres como eu, não ligados a instituições (agora não mais), fica obrigatório também aprender a escoar e vender o seu trabalho. Isto vale pra qualquer profissional livre, incluso quem oferece workshops e cursos.

Neto Macedo, Fotógrafo

Não julgo quem escolhe uma profissão unicamente pelos motivos financeiros. Sempre haverão ambos em todas as profissões. Quem faz por amor e quem faz só pelo vil metal. E claro, quem faz pelos dois também. Este último é o meu caso.

Trabalhar com fotografia dá dinheiro? Às vezes sim, às vezes não, mas dá muitas alegrias com certeza quando você faz por amor.

Sou professor com muito orgulho, por amor e por sobrevivência, os dois juntos.

Então, devo ou não confiar nos professores de fotografia?

No fim das contas, acaba ficando a critério do aluno decidir se esses cursos ou workshops de fotografia vão ajudá-lo ou não. Igual cabe ao leitor de jornal decidir como interpretar a informação de uma notícia, nesta época de fake news. É necessário apuro com os critérios pessoais.

Na minha experiência pessoal como professor (não só ensinando em cursos livres mas nos superiores também), cada aluno difere no que diz respeito a forma de melhor aprender e absorver informação.

Há 10 anos quando iniciava como professor de fotografia tinha uma visão muito mais simplista das coisas. Dividia alunos em “fracos” e “inteligentes”. Depois descobri que cada pessoa funciona melhor com diferentes formas de ensino. Todo aluno pode aprender.

Há pessoas que são excelentes pra processar informações sozinhas, sentados e lendo. Outras não conseguem ler nada e tem que escutar tudo. Outros precisam muito de prática extensa pra cimentar algum conhecimento, outros não.

Também conheço amigos e alunos que são excelentes profissionais mas são incapazes de aprender qualquer coisa sem um contato direto com um mestre (no sentido de um guia presencial que fala, escuta e responde).

Já fui inclusive contra cursos online de fotografia e educação à distância, mas depois acabei percebendo que aprendi muita, mas muita coisa mesmo, só vendo vídeos ou lendo livros. Coisas que uso de verdade e que domino hoje.

Professor de Fotografia, Neto Macedo
Durante o meu curso de fotografia analógica em São Paulo

Posso até considerar alguém um mal professor de fotografia, mas evito emitir o juízo de valor porque não sei como seus alunos enxergam as técnicas de ensino destas pessoas, se são de ajuda ou não. Como disse, cada um aprende de maneira diferente.

Você deve ser capaz de identificar o estilo do professor do seu curso de interesse e pensar se este estilo vai te ajudar a aprender.

Qual meu conselho para você aluno de workshops de fotografia?

Esta semana vi um vídeo da deputada Tábata Amaral onde ela conta como era em Harvard, faculdade onde se formou. A ideia central em uma faculdade deve ser ensinar o aluno a pensar. Por isso lá em Harvard o objeto de estudo pouco importa.

Independente de se estudar matemática ou ciências sociais, são poucas horas de aula presencial e muitas milhares de páginas de leitura e debates extensos por semana. O objetivo é ensinar o aluno a pensar, não a usar as coisas que aprendeu como se fosse um robô.

O aluno que aprende a pensar, processar e organizar informação, aproveita melhor as fontes de ensino sejam elas quais forem.

Nos meus cursos, mesmo os mais técnicos, sempre foco neste objetivo, por isso muitas vezes não ofereço respostas prontas a perguntas diretas. “Qual a melhor lente? Depende do que você quer fazer”; ou “Como fazer fotos bonitas”? Primeiro temos que definir o que é bonito ou não”, e assim por diante. Quem já estudou comigo sabe.

Já num workshop de fotografia a ideia central não é ensinar a pensar, mas sim aprender a fazer o objeto de estudo. Por isso o nome workshop (oficina, em inglês). O objetivo é praticar o que é ensinado. Botar a mão na massa mesmo. E não há nada de errado nisso.

Mesmo assim tento sempre mostrar ao aluno as coisas por uma nova perspectiva, de forma que os conceitos apresentados sejam vistos como ferramentas que podem ser úteis ou não, dependendo da situação, nunca como soluções fixas para situações fixas. Como sabemos, as oportunidades são infinitas e nada que foi certo em uma situação será também em outra. As soluções nunca são as mesmas.

Vamos conversar mais?

Tenho um grupo de Whatsapp e outro grupo no Telegram onde a intenção é bater papo sobre fotografia. Lá também mando os artigos que publico aqui e vídeos que posto no meu canal do YouTube sobre Fotografia. Nestes grupos, além de continuar este debate e outros, também aviso quando há data para os meus cursos. Sinta-se convidado a participar. É aberto!

Achou pesado o post? Clique neste link onde faço uma brincadeira com um quiz e descubra que tipo de fotógrafo você é.

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Por Neto Macedo

Neto Macedo é fotógrafo e professor há dez anos. Mantém o Aprenda Fotografia por amor à arte de fotografar e oferece cursos presenciais por todo Brasil, além de cursos de online desde o básico ao avançado.

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